quarta-feira, 3 de março de 2010

MINTO MAS NÃO MITO

AS CRENDICES SOBRE DEUS.

Eu sempre fui fascinado por mitos, inclusive já acreditei em vários deles, e de um modo geral os mitos servem para explicar, popularescamente, verdades e lições de vida. Os mitos tem seu valor.

O perigo do mito é quando ele serve como elemento de relativização da verdade, ou alienação da realidade fática. explico:

- Eu posso entender o mito da cegonha trazendo bebês como um modo de dar certa explicação sobre a procriação, a origem do homem, salvaguardando o ouvinte da realidade sexual que envolve a reprodução.

Mas não posso creditar verdade à cegonha, nem mesmo testificar que já a tenha visto entregando bebês.

Coisas do tipo: político honesto não existe, comer manga com leite pode matar, quem azeda o leite é o saci…São compreensíveis dentro dos núcleos sociais que aparecem. Um país descrente de sua condição política pode dar como verdadeira a questão da total corrupção, um patrão querendo livrar suas mangueiras e suas vacas de utilização por subalternos pode usar de artifícios mentirosos, e assim por diante.

Nada contra a cultura e a criação humana, muito pelo contrário , admiro, leio e defendo muito as representações culturais.

O perigo está quando a crendice se transporta sob a verdade e a domina, como se a verdade fosse passível de modernização,ou auto-superação. Entretanto, é inegável que o mundo sempre foi seduzido pelo mito.

E algumas pessoas, que dizem conhecer a DEUS,  tecem mitologias acerca do Altíssimo de fazer inveja ao panteão grego.

Entre elas:

Deus escrevo certo por linhas tortas : como se DEUS fosse um calígrafo que compensa as circunstâncias negativas com adaptações que fazem o todo valer a pena. Um malabarista cósmico.

Quem não dá dízimo é atacado pelo devorador: nesse caso todo mundo que não contribui com dinheiro em favor de alguma iniciativa feita em nome de DEUS, estaria condenado a uma visita de um gafanhoto abissal, um godzila em forma de inseto, que devoraria tudo em nome de DEUS. Esse mito causa arrepios a quase todo mundo, menos nos que nada tem, mas a tudo possuem.

Oração boa é oração violenta : Tem gente que acredita que se a oração não for feita com gritos, suor, sangue e lágrimas, então DEUS não deu a menor importância ao conteúdo da oração. Na verdade a oração faz efeito pra quem crê no DEUS que ouve a oração, e não na oração pela oração, pois, quem crê na oração como fim em sí mesma, auto-referente, torna-a um amuleto, um mito.

Mais recentemente, e a exemplo dos acontecimentos no DF, ocorre o fenômeno da criação mítica da crença de que Deus santifica os ganhos criminosos, indevidos. É de embasbacar, mas, existe quem creia que pode colocar DEUS como integrante da própria máfia; causando nojo as orações que pedem para DEUS santificar o dinheiro roubado…

Muitos outros mitos poderiam ser tratados aqui, porém este não é o objetivo.

O fato realmente importante é a aplicação deste conceito nas nossas vidas, ou seja, quais mitos sobre mim e sobre DEUS eu criei. Quais as verdades do evangelho eu acabei adaptando, tornando-os verdadeiros mitos bíblicos ?

Agente mitifica o amor, a graça, o perdão, a misericórdia e tantas outras coisas.

O pecado não pode ser pintado com cores alegres, nem a verdade vestida com roupas cafonas, sob pena de mitos intransponíveis estarem se erigindo dentro de cada de nós.

Em síntese: viva oque é, não aceite a substituição, não troque pérolas por semi-jóias.

Eu minto, mas não mito.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito Bom Diegão!!
Bruno Zecchin

Anônimo disse...

É interessante como se dá o processo de criação de um mito, principalmente no meio evangélico. As vezes a coisa acontece de uma forma banal, tome-se como exemplo o surgimento alguns anos atrás do mito de que estar doente era uma maldição de Deus. Tudo começou com alguns pregadores do anti-evangelho anunciando essa inverdade, usando exemplos e tudo mais, e de repende gerou-se uma catarse coletiva envolvendo até pessoas que tinham alguma capacidade de raciocínio (essa é uma das coisas que mais me impressiona, pessoas com capacidade de pensar que simplesmente ignoram isso em nome de uma fé burra, desprovida de razão) e de repente a coisa toma uma proporção inimaginável. Mas nós seres humanos somos assim, damos as vezes crédito ao que não deveria ter crédito, e os exemplos estão ai de forma abundante. Como somos moldáveis, como conseguimos nos alienar em um pensamento, assumindo novas verdades a cada momento e vivendo essas verdades unilateralmente e considerando como mentiras as verdades vividas anteriormente e isso é assustador pois nos dá até a capacidade de abençoar o inabençoavel. Que o Pai das luzes possa iluminar o nosso entendimento e discernimento para vivermos em simplicidade, graça e amor abundante. Parabéns pelo texto Diego.