quarta-feira, 15 de junho de 2011

PONHA UM PONTO FINAL

A DIABÓLICA LÓGICA LACRIMAL.

“Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!  A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus? Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma; pois eu havia ido com a multidão. Fui com eles à casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão que festejava. Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação da sua face. O meu Deus, dentro de mim a minha alma está abatida; por isso lembro-me de ti desde a terra do Jordão, e desde os hermonitas, desde o pequeno monte. Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim. Contudo o SENHOR mandará a sua misericórdia de dia, e de noite a sua canção estará comigo, uma oração ao Deus da minha vida. Direi a Deus, minha rocha: Por que te esqueceste de mim? Por que ando lamentando por causa da opressão do inimigo? Com ferida mortal em meus ossos me afrontam os meus adversários, quando todo dia me dizem: Onde está o teu Deus? Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus. Salmos 42: 2-11”

É bem verdade que a vida sofre altos e baixos, que nem tudo ocorre a contento nosso, também é verdade que o tempo de cura não é igual para todos, contudo, a dor não pode continuar ad eternum.

O compositor do salmo 42 é um belo exemplo de quem encontrou na dor uma experiência de vida, um momento de reflexão, e que , principalmente, soube sintetizar e finalizar bem o momento da dor.

É interessante notar que para o salmista, fosse a sede dos cervos do sul de Israel fosse a abundância de água do norte, tudo era motivo, comparação, externalidade, parâmetro para a agonia e a angústia em que sua alma, secamente sentia sede e ao mesmo tempo se afogava nas cachoeiras e se precipitava nos abismos.

Isso mostra que pros olhos de quem está sofrendo: não importa o lugar, a situação, o tempo… não importa nada, visto que tudo é visto como lamento. Tudo passa pela interpretação parcial, errônea e viciada de olhos embargados pela quantidade exagerada de lágrimas.

A vida passa a ser distorção da angústia, a dor se apodera da alma e se entroniza no ser, causando um estado de extrema relativização da paz, da alegria, da temperança, da esperança…

Mesmo que Deus fale, mesmo que anjos apareçam, mesmo que os céus se movam sob nossas cabeças e a terra mexa debaixo de nossos pés, para quem está de abismo em abismo, isso pouco importa ! E algo perigoso se instala em nosso coração e migra para os nossos lábios- falo dos questionamentos acerca de DEUS…onde está, existe, quem é, por qual motivo não age , até quando, todas inquisições que de nossa línguas irrompem contra os céus, colocando o eterno contra a parede, fazendo auditorias das atividades divinas, cobrando produtividades do senhor de todo universo.

Para quem se encontra em tal cenário, o primeiro passo é assumir a responsabilidade da dor, não por sua causa ou por seus efeitos, mas por seu término, determinar conscientemente que a dor tem de ter prazo para começar e para terminar, que não pode ser tratada como amiga, desistir do sabor gostoso de uma boa depressão…é levantar a cabeça suja  da lama da auto-comiseração e decidir limpar-se de tudo isso.

É exercício doido e penoso, de se confrontar no espelho com nosso maior e mais antigo inimigo, e dele questionar, sem titubear, Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?

E a resposta deve ser: em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus.

Pois o salmo da dor termina, e termina peremptoriamente, logo, pontue o fim da tua dor, ponha um ponto final.

3 comentários:

Dani disse...

Gostei bastante Diegão...
porque além de ser um belo texto, serviu pra mim...
Obrigada mesmo pelas palavras de hj e sempre cunhado...
É difícil, porém necessário!
Abçs!

Anfrisio disse...

Gostei do seu texto Diego.
Nada passa despercebido diante de Deus. Ele sabe dá o sofrimento na medida certa que cada um possa suportar, e "ponto final".

LEONARDO BRITO disse...

excelente texto cara!! MUITO BOM